Um susto e uma corrida

Foi assim. Uma suspeita.A poucos metros de onde estava, começou uma perseguição policial. Houve tiros. 

Foi uma corrida. Meu instinto me fez correr. Disseram-me que era melhor eu ter me jogado no chão. Ao correr, sentia minhas costas latejarem, esperando um tiro nelas. Pude me abrigar atrás de um food truck, enquanto torcia para que policial e bandido não viessem na mesma direção. Não vieram. Correram em outro sentido, mas pude ver a arma em punho carregada pelo policial. Foi dela que saíram os tiros. 

Foi um susto. Após a adrenalina ceder, fui fazer o que tinha ido fazer: ir aos Correios. Lá, eu fiquei inerte, ouvindo as pessoas comentando. Ao sair de lá e voltar caminhando pelo mesmo trajeto da ida, as mãos tremiam. Encontrei outra sobrevivente, que escondeu-se atrás da árvore. Fomos juntas conversando, uma fazendo companhia à outra. Falar faz bem. Ao chegar no trabalho, a fome havia ido embora. Alimentei a alma com água e chocolate. Lembrei-me do Harry Potter com os dementadores.  À noite, ainda iria respirar fundo, com dificuldade. Mas, dormi. E acordei bem.

Foi uma viagem. Pensei no meu filho. Pensei no marido. Na vida que deixaria. No que ainda não tinha feito. O que levaria na bagagem? Levaria gente. Sentiria falta de histórias, de ouvi-las. De conhecer gente. De fazer amigos. De sentir dor e depois superar.
Contei o fato às pessoas, para lembrar a elas a importância de viver. Fiz questão de agradecer pela chance de continuar por aqui. 

Foi uma celebração. No domingo, fui ao lugar que considero mais sagrado, para agradecer. O dia era de sol, a paisagem estava incrível, com muitas flores, árvores, ar puro. Até um macaquinho resolveu subir nas árvores neste dia. Orei. Em prece, agradeci.  É uma nova vida. O que farei daqui pra frente? Viver, é claro. Como se cada dia fosse uma nova vida. 



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