Sejamos todos Lotte - uma homenagem ao filme Bauhaus







Alicia von Rittberg faz a jovem Lotte

Sexta-feira, aquele dia da indulgência e do almoço com os colegas. Inevitável, para quem é da profissão, da área jornalística, não falar dos cenários, do noticiário atual. Política, Economia e as crônicas pessoais de cada dia.

As análises da situação atual não são nada favoráveis. Muitos brasileiros desanimados, deprimidos. Já ouvi de psiquiatras que as eleições fizeram os consultórios ficarem com mais gente.Separaram familiares, amigos, ampliaram-se as bolhas. As fake news proliferaram. As pessoas não estudam, não pesquisam e disseminam informações à própria conveniência. O conhecimento deu lugar à manipulação.

Outro dia, precisei interromper uma discussão na minha página do Facebook. As pessoas começaram a descrever uma série de notícias falsas e passaram a ofender quem não concordava com elas. Uma enlouquecedora análise juntando coisas que não se juntam, como ser contra a ditadura significar apoiar roubo. Algo totalmente sem o menor sentido.

Mas, sabe que foi bom isso ter acontecido? 

Foi ali que eu percebi que não vai adiantar nada eu publicar o que os fatos e argumentos apresentam como óbvio, para uma platéia que não quer entender porque a imagem no espelho é feia demais. Ou para uma platéia que vai concordar, mas ficará ainda mais chateada, ainda mais deprimida. Falar o óbvio é super importante no momento - por causa da enxurrada de fake news que andam por aí. Mas, resolve em parte.

Felizmente, eu tenho gente de bem que me cerca. Em uma conversa, veio à tona a coisa mais simples e verdadeira da vida. Antes da bonança, vem a tempestade; antes da casa limpa, tem a faxina - e anterior a ela, a sujeira. Vamos precisar chegar ao nível do deserto para reconstruir a humanidade. É irônico, mas tudo isso que está aí é para destruir velhas convicções, erros antigos, conclusões furadas. Chegamos a esse ponto. Precisamos dar errado para poder voltar a dar certo. A humanidade fez e continua fazendo muita bobagem, o que é, infelizmente, indiscutível para qualquer bolha virtual.

E foi, então, que por dica da Fal Vitiello, eu assisti ao filme Bauhaus, que conta a história da jovem Lotte, aluna da famosa escola de design nos anos 20. Uma delícia de soco no estômago. Tão antes da Segunda Guerra Mundial. Tão atual. A perseguição aos intelectuais, a agressão de jovens nazistas a judeus e a quem ousasse ir contra  os extremistas de direita. O preconceito com as mulheres, caladas por famílias. As que ousavam sair do sufocante cenário, sofriam muito. Inspirada na história real de Alma Siedhoff-Buscher, o filme mostra que se hoje usamos calças compridas, podemos ter cabelos curtos, votamos e estamos em condições mais próximas de igualdade com os homens, foi por causa de pessoas que fizeram mais do que constatar os fatos.

Então, eu peguei carona com a jovem Alma, e fiquei ainda mais convicta de que há tempo para mudar. Resistir. Fazer a diferença. Com certeza, é mais digno manter a porta do elevador aberta ao ouvir passos se aproximando do que xingar os outros porque pensam diferentemente de você. 

Ainda podemos ter jeito.









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