Pausa para quem tem pressa

Mensagem do braço-direito do lar. Ônibus atrasado. Consequemente, ela vai chegar mais tarde. Nos primeiros segundos, aquele ímpeto de dizer algo impensado, uma certa raiva – não por ela, mas pela agenda, que vai ficar enrolada.  Aí, meio que andando pela casa, naquela ansiedade disfarçada –  afinal, o que se há de fazer nesses minutos livres – deparo-me com pedidos de exames esquecidos sobre uma prateleira. Nem penso duas vezes. Ligo pro laboratório e agendo tudo. Respiro satisfeita por ter dedicado uns minutos pra isso.

Em outro compromisso, uma reunião é mais prolongada. Os planos de ir a pé pro outro compromisso vão por água abaixo. Mas, na volta, é possível apreciar o caminho até a próxima parada. O marido, depois, pergunta, surpreso, a escolha de ir caminhando. É a oportunidade do exercício que ainda não é rotina.

Mais imprevistos. O que me faz almoçar em casa. E me encontrar com o filho, que está em férias, e com a mãe, que está visitando Sampa.

Chega o domingo. Dia da mãe voltar pro Rio. Contamos ao neto, repetimos a notícia, fizemos a agenda, fomos pro aeroporto. Mas, mesmo com toda a programação, crianças azuis se manifestam. E às vezes de um jeito estressante. Barulhinhos, chiados, movimentos com as mãos repetidos e agitados. A gente vai aprendendo a lidar, mas é algo realmente que tem tudo pra te tirar do sério. Você vai respirando fundo, mas a tensão às vezes invade os ombros, a nuca. A crise passa. Sempre passa. A tensão que fica é que demora mais um pouco. Porque as dores físicas ficam por mais um tempo. Esse “segura-onda” é complexo. Mas, o garotinho senta-se à mesa com os pais e a avó, ri da água que derrubou, acha o máximo a bagunça. Meio que faz desanuviar tudo.

O fim das férias torna o trânsito mais infernal, como se o inferno pudesse ser mais inferno. Mas, aí, a gente olha pro lado e pode conversar com o marido durante o trajeto. O carro vira sala de estar e o inferno a gente deixa do lado de fora. De vez em quando, a gente se lembra dele, numa fechada do carro do coleguinha ao lado.

Às vezes me surpreendo, com alegria, por perceber mais esses momentos. A idade? Pode ser. A necessidade de se acalmar, por sobrevivência? Sim. Às vezes me assusto com o estresse, com o perder de vista. Chego a sonhar que estou numa floricultura, onde calmamente atenderei aos fregueses. E, certamente alguém entrará pedindo uma planta que não tenho a oferecer e, com um ar blasé, direi “passa amanhã”. É apenas um sonho, interrompido pelos pensamentos racionais. Nem floriculturas têm dias somente de tranquilidade. E, muito loucamente, penso se não vou sentir saudades do frenesi. Será?


Tudo é possível. O que não se pode é deixar de apreciar o nascer do sol ao longe, visto da janela, enquanto se toma o café e espera-se pela parceira do lar. As pessoas e seus jeitos, suas conversas, enquanto se caminha de um lugar pro outro. Olhos nos olhos. A gente minimamente precisa deixar esses momentos mais vivos. 

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