A vida às vezes te dá um tempo

Às vezes, o corpo enfraquece, adoece. Foi o que aconteceu naquela sexta, à noite. Tudo ia para fora. Doía-lhe na altura do estômago - ou seria pâncreas, fígado. Não lhe são naturais os remédios. Àquela altura, não lhe ocorre o que pode ser pior. Tudo só sabe doer.

Teria sido o arroz doce? Ou o arroz doce foi a desculpa que o corpo lhe deu? As semanas têm sido de crescimento, mas de grandes desafios. Pequenas conquistas estão lhe alegrando. Ler uma autobiografia de Saramago. Uma delícia. A pós, o pilates, a caminhada. O ânimo a uma possível dieta. Algumas gramas que foram embora. Tudo isso é ponto a favor.

Isso lhe faz reconectar-se com sua criança interior. Ouviu sobre isso essa semana. A criança anda mal cuidada, sob uma pressa e uma eficiência da vida que sempre lhe foram necessárias. Desde o nascimento, que foi à base de fórceps. Sim, ela lutou para nascer.

As negações da vida lhe fizeram forte.O não sempre foi um combustível. Era só dizer que ela não era capaz, que isso já virava uma obstinação. E provava, com louvor, o que alguns diziam que nunca conseguiria. Admiravelmente, faz até três coisas ao mesmo tempo. Como é possível? Nem ela sabe explicar.

Mas, de repente, viu-se com a criança interior. Abandonada. Por isso aquele bota-fora todo. Precisava parar. Respirar. Sentir-se incapaz por alguns minutos. Precisou organizar o que é fé, o que é crença e o que é o seu próprio eu.

Nem sempre é preciso ser forte. É preciso viver cada minuto. A realidade dói, mas é preciso senti-la. Vivenciar essa dor por alguns segundos, ou minutos. Dissolvê-la, com digestão delicada e meticulosa. Ser pai e mãe dessa criança interior. Acolhê-la. Dar o acolhimento que a vida não lhe deu. E não sentir pena de si mesma, mas solidariedade. Entendimento.

É uma nova jornada. Renascimento. Gratidão por todos os vômitos. Aquela dor esvaiu-se. Bem-vinda, criança, adulta. Bem-vinda, vida.

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