Uma vez, Flamengo

Fonte: Google Images


O noticiário pesado de hoje me puxou, inevitavelmente, para a infância. Mais precisamente ao começo da década de 80. Em 1981, um pai vascaíno perdia as esperanças de ver sua filha mais velha usar a camisa cruz-maltina. O Flamengo tinha Zico, Júnior, Andrade, Adílio, Raul no gol, Leandro. E tinha o Nunes, aquele que se orgulhou de jogar "onde Cristo nasceu' em uma entrevista épica em Belém do Pará. O Flamengo era campeão mundial. 

Aos oito anos de idade, vi meu time ser campeão. Meu pai nunca me perdoou. Lembro-me de um desses dias que o Flamengo dava azar com o Roberto Dinamite, de eu tentar me esconder dele debaixo da cama. Acha que um pai deixou de tirar sarro de uma criança? De jeito nenhum, clássico é clássico. 

E foi assim que eu fiquei viciada em futebol. Manhãs de domingo eram sagradas para o futebol italiano. Na hora do almoço, debate esportivo. A única coisa que meu pai não teve coragem de fazer foi me levar ao estádio. Primeiro, porque torcia pelo time rival. Segundo, por eu ser menina. Apaixonados por futebol, nunca fomos a um estádio juntos.

Pisaria pela primeira vez num estádio em um Fla x Flu. E quis o destino que eu fosse para a torcida do Fluminense. Era minoria do grupo. Mas foi a coisa mais divertida do universo, comemorar os gols do Flamengo com a cabeça entre as pernas. O jeito de reter a adrenalina.

Depois eu viria da tribuna da imprensa, já formada em Jornalismo. Veria o inesquecível gol de barriga de Renato Gaúcho. Veria também o time ser campeão da Taça Guanabara. 

Meu pai se foi, a paixão pelo futebol foi transformada. As rugas chegam, afinal.

Quis o destino que eu fosse morar em São Paulo, casar com um são-paulino e ser mãe de um garotinho azul tricolor. O que deixou meu pai um pouco mais feliz. Melhor do que o neto ser flamenguista, certeza.

Por tudo isso e muito mais, meu sangue é rubro-negro. As bandeiras flamulando, os títulos, as derrotas, as provocações. Aquece meu coração. Mesmo com tudo o que o futebol proporciona de errado.  Por tanta paixão, acho que o segredo é esse. Une pessoas. Gente. Toque pessoal. Nada substitui um estádio. Nada aproxima mais do que uma mesa de bar com debates intermináveis, em que todos são um pouco técnico. Famílias vibram, brigam e se unem em jogos da Seleção Brasileira. E por aí vai.

Talvez por isso o dia tenha sido muito estranho, hoje. Um bolo na garganta. Um choro contido, preso. A paixão morreu um pouco junto com aqueles garotos, que assim como o verso do hino, foram "Flamengo até morrer". Fica a tristeza, fica a raiva, surge a solidariedade. 

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

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