Nós na garganta

O dia começa quase na hora do almoço. Uma caminhada para cumprir a promessa do Ano Novo. Um agradecimento eu uma gentileza - outra promessa, que algum dia eu detalho para vocês.

O sucesso do jantar garantiu uma falta de plano B pro almoço. Resultado: vamos buscar um restaurante em pleno primeiro dia do ano. Alheios ao noticiário, encontramos um dos poucos 10 restaurantes abertos. Olhamos enternecidos pros pobres funcionários, que me lembram quando eu trabalhei no Aeroporto do Galeão - hoje, Tom Jobim - ou quando eu estagiava em Tevê. Não tinha feriado, dia santo ou sábado ou domingo. No fim das contas, eram os meus 20 anos. E, com 20 anos, tudo é mais suportável.

Um telefonema entra almoço adentro e me causa nós na garganta. Do outro lado da linha fico sabendo que uma pessoa mais do que querida quase morreu. Olho pro infinito e aquele cenário todo desaparece. Já não me importa o que me servem, já não dou bola pro dia primeiro, já nem sei mais o que estou sentindo.

Saio do almoço na direção de algo que me conforte até eu ter notícias mais atualizadas. O local onde estou tem árvores dos desejos. Coloco ali todos os meus desejos, inclusive o da vida. Sorrio pro meu filho, meu anjo azul, que escreve o nome e a idade. O jeito dele de dizer que 2019 é o ano só dele. O mundo só dele.

Nos deparamos com o cinema. Um funcionário muito , mas muito atencioso, nos guia ao filme. Temos uma hora. Vamos a mais duas atrações com a criança, com a promessa de um bolinho. Meu marido acha impossível, eu acho que qualquer divertimento vai me tirar os nós na garganta recebidos no almoço e o meu filho acha impossível andar num carrossel. Mas, anda. E ganha o bolo de prêmio. E devora o bolo. Ele começa a ter crises. Corre de um lado pro outro. Mais nós na garganta. E agora? Veremos o filme? As notícias que espero serão boas? Eu vou dar conta?

Sento com ele em um confortável sofá da sala de espera do cinema. Acaricio seus cabelos recém-cortados. Faço uma prece. Ele fica alheio às pessoas que chegam e sente-se em casa. Volta a ficar feliz. Chego a ficar aliviada com as traquinagens.

Vemos o filme. Poucas tentativas de levantar-se e irmos embora. Ele estava gostando. Um nó a menos.

Chega a mensagem. E vem o telefonema. A esperança volta. O perigo se distancia um pouco mais. E então eu estaciono o nó da situação.

Chego em casa, me distraio com a casa, com o noticiário, o filho agitado, o marido que decide faxinar o fogão. De repente, as lágrimas rolam. Descubro que os nós foram para algum andar que desconheço, entre o pescoço e a cabeça e foi parar abruptamente nos olhos marejados. Choro. Suspiro. E me canso.

Muitas emoções, muito amor, e muita celebração à vida. Tudo muito intenso. Esse foi o meu primeiro dia de 2019.

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