Pode repetir?

 Ruído. A palavra, por si só, já traz o tom negativo. Do latim rugitus (rugido), significa barulho, estrondo, um som indistinto. Em comunicação, algo interferindo em uma troca. No caso, alguém está transmitindo algo a outro alguém. E surge o ruído, atrapalhando o entendimento, a compreensão inequívoca dessa mensagem.

De onde ele vem? Pode ser uma questão técnica. Aquele momento em que você está assistindo a um programa de tevê, chamam alguém de outra localidade para participar e há uns segundos de silêncio, entre as duas pessoas que estão se comunicando. Você, do sofá, grita à televisão "vai, fulano", agoniado com esses instantes de silêncio. Mas é o famoso delay, normal nas conexões a distância.

"Ciclano, você me ouve?" foi uma das perguntas mais ouvidas durante a pandemia. As famosas videoconferências. É a voz que não sai porque você está no mudo. É o vídeo que é veiculado sem som. Tudo isso atrapalha o bom andamento da reunião, do treinamento, da aula. É ele, o ruído.

Há os mais complexos e nem sempre tudo é mal-entendido. Exemplos: "a declaração do técnico causou ruído entre os conselheiros do time". Aí, depende. Se o técnico realmente quis dizer o que disse, não é ruído, é mal-estar, mesmo. Há também o discurso que é assimilado, não pega bem, e, depois, surgem posicionamentos de que "a fala foi tirada do contexto". Só que está tudo gravado, sem edições. Pegou mal, mesmo.

Ruídos também residem em problemas semânticos. Ou de puro desconhecimento. Falar a uma população pobre sobre os benefícios da tecnologia, em um local que sequer tem asfalto. Ninguém vai entender o que é dito, porque há necessidades mais urgentes. Capaz de a mensagem ser recebida como ofensa. Podemos falar por horas das causas históricas e culturais, mas, temos exemplos históricos de dizeres que destoaram. Um ruído histórico ocorreu em 11 de agosto de 1984. O então presidente norte-americano, Ronald Reagan, foi testar o microfone antes de um pronunciamento. Resolveu fazer uma brincadeira, falando em "varrer a Rússia com um bombardeio". A frase fez Moscou ficar em alerta. 

Grandes executivos e autoridades costumam pesquisar culturas, hábitos e fatos históricos das localidades que visitam. Justamente para que seus discursos não causem qualquer constrangimento aos anfitriões. Nada pior do que confundir cidadãos de uma região com outra, atrações turísticas ou não saber os gestos que expressam agradecimentos. Grandes oradores sempre prendem a audiência pelo amplo conhecimento sobre ela.

Recentemente, o presidente do Banco Central, Campos Neto, admitiu que houve ruídos no comunicado ao mercado, reflexo da divergência de dois grupos do Copom (Comitê de Política Monetária). Isso fez com que o mercado entendesse uma porta aberta à redução de juros, embora a intenção fosse dizer que a diminuição ocorreria com parcimônia. A falta de entendimento entre dois grupos do comitê fez com que compreendêssemos menos ainda e isso impactasse índices financeiros. Até onde uma falha de comunicação pode chegar...

Em todos os casos, evitar já é uma boa ajuda. E conhecer com quem está  falando é o item mais importante para essa prevenção. Quanto mais você entender como o outro lado consome a informação, mas vai acertar e evitar falhas de entendimento.  Não há nada pior do que falar de uma forma tão erudita, para poucos.  Quer falar bem? Seja simples, utilize palavras que todos compreendem. Fica a dica. Perguntar e confirmar também são ótimos aliados. Ficou alguma dúvida? Tem algo que não falamos aqui que merece ser mencionado?

Ruídos, falhas, fazem parte do jogo. Existem e são esses os fatos. Reconhecer essa realidade e procurar cuidar para que não surjam é a melhor forma de lidar com eles. Vamos ter dias bons, vamos ter dias ruins nos diálogos da vida. O que não dá é a gente desistir de ser melhor a cada dia. 

O fato é que comunicar é uma eterna repetição. 

Vamos de novo?

E segue o jogo.



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