Os baixos, os altos

Semana difícil. O filho passa mal e você não entende muito bem os sintomas. O autismo te desafia na compreensão. O murmurar é porque o estômago está doendo, é a dor de barriga, será que é efeito da Covid-19... não dá para saber. Mas é possível amparar. Essa é a nossa função, dos pais, de auxiliar o que é incomunicável por padrão.

E continua difícil. A rotina dá um jeito de nó de marinheiro, as horas não são suficientes, a escuta é demandada em nível máximo, a cabeça dói, o sono fica inquieto, o corpo cansa. E basta um gatilho para a explosão. Sobra para quem está do lado.

Felizmente, as rugas não trazem só preocupação, mas experiência. Saber o momento de respirar, aquietar-se e reconhecer o que tá gerando esse desconforto que obriga o corpo a eliminar as coisas do jeito errado. E a vida é tão, tão cruel e igualmente generosa, que a dor tem vencimento. As peças se encaixam, fazem sentir e fazem sentido. 

A cicatrização é fruto de sinais. Aquela mensagem só para você, para mostrar que lutar pelo lado certo vale à pena, mesmo que as aparências traduzam que bacana é o custe o que custar.


Mais uma vez, a lição que a comunicação traz: não é sobre você. É sobre o outro. Tomar a decisão de fazer o movimento na direção do oponente exige coragem e fôlego. Afinal, é sobre isso. Na Idade Média, a burguesia cansou de ser excluída da roda do clero e fez o próprio caminho. Agora, séculos de experiência mostraram que polarizar só leva a uma coisa: desunião. Não são eles e nós. Somos todos nós.

É isso que te faz ampliar a percepção sobre o outro. A mudar a tática de ataque, para limpeza dos dutos, dos canais de comunicação e, finalmente, mesmo pensando diferente, conseguirmos nos sentar à mesma mesa e conversar, olho no olho.

Nem sempre a gente consegue limpar esses dutos a ponto de perdoar. Mas, acredite, encarar os algozes pelo menos alivia. Dá uma sensação de se ficar mais leve, mesmo que não se possa esquecer.

A vida é boa, afinal. De tanto que o corpo e a alma já assistiram a tanta maldade, a gente desconfia. Esmola demais para essa pobre humilhada. Esse é o próximo desafio. Não ter medo de se sentir feliz. O que vem sendo bom: curtir cada minuto.

Fonte da imagem: Fonte: https://anatattoodrechsler.tumblr.com/post/158549266687/mais-uma-tatuagem-de-m%C3%A3e-e-filha-criada-com-muito


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