A semana deles

Essa é a semana dos avós. Dia 26 de julho. Dia De Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus Cristo, pais de Maria (mais informações por aqui: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44930392) . Em outros países, há outras datas.  Mas, o que se sabe, é isso: tem dia pra vovó e pro vovô.

Eu tive o privilégio de conhecer dois avós - os paternos. Os maternos, infelizmente, faleceram muito antes do meu nascimento.

Dos avós paternos, eu absorvi o que é ser neta. É algo que você não vai, de cara, aproveitar muito bem. Mas, quando você vira mãe, entende o que é ver seus pais se transformarem em avós. Vovó e vovô são os álibis, aqueles que deixam você fazer o que eles proibiam seus pais de fazer.

Das lembranças, comida boa - com bastante açúcar e azeite, porque é assim que funciona para quem é descendente de português. Tudo é regado a vinho, alho e azeite. E sobremesa tem que ter fio de ovos. E sonhos caramelizados.

Ah, e torcedores do Vasco da Gama. Ops. Vai ver que por isso virei flamenguista. Pra decepção geral.

Já dos maternos, eu soube de histórias. Histórias de luta. Vovó e vovô criaram quatro meninas. Uma faleceu cedo. Vovó não resistiu a uma tuberculose, antes dos 30 anos. Vovô seguiu o mesmo caminho, uma década depois.

Os anos seguem, você vira adolescente, confronta gerações, não entende muito a forma de pensar dos mais velhos. Ou os defeitos deles. Você ainda mal se olhou no espelho, não é mesmo? Eu lembro de um diálogo surreal com a minha avó, questionando porque eu estava tão cansada e ainda tão jovem. E eu respondi: "vó, hoje em dia a gente é conectado, a gente leva trabalho pra casa". Ou, quando eu tentei explicar a minha profissão (mas isso não é restrito a avós; difícil explicar o que é ser jornalista por aqui). Mas a verdade é que os tempos eram outros. Tomava-se um bonde, o lanche "ostentação" era na Confeitaria Colombo. Teve Getúlio Vargas. E ditadura. Cozinhava-se com banha e ninguém era acusado de heresia por isso. As preocupações eram outras. Tinha guerra. Tinha desemprego. Tinha falta de leite. Ops... ainda tem tudo isso.

Havia histórias. Herdei um ferro de passar que era nutrido por carvão. Ouvi histórias de longas viagens de Portugal pro Brasil em navio. A dureza da vida do imigrante. Ou o sonho de quem mora no interior, larga uma fazenda e vai entrar em um negócio de mate gelado.

Eu vi meus pais virarem avós. Meu pai curtiu até onde conseguiu seus quatro netos, antes de ir morar no andar de cima. Minha mãe ainda os curte. Eu não sei se um dia serei avó. É um tanto improvável - sou pé no chão - com um filho que tem autismo.

O que eu sei é que tudo é ligado e interligado por raízes. Eles estão em algum lugar, no meu DNA, no meu nariz "mouro", no meu sorriso, na minha resiliência, na minha passionalidade. Avós, bisavós, tataravós e por aí vão.

O que eu sei é que planta sem raiz não tem vida. E nem gera frutos. E é por isso que me bateu saudade. E respeito. E perdão. E carinho.

Feliz Dia, vovôs e vovós.

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