Tá na cara

Quem nunca ouviu esse comentário: "fulano está dizendo uma coisa e a cara está dizendo outra"? 

Pois é, comunicação não verbal é tão importante quanto a verbal. Afinal, tudo comunica – o que vestimos, como agimos, nossos gestos, semblante, olhar.

Há especialistas nisso. O célebre livro de Cristina Cairo, O corpo fala. Há peritos, que avaliam se a pessoa está ou não dizendo a verdade, observando os movimentos dos olhos, da boca, das narinas, para resolução de crimes.

Três casos, sem dúvida, chamaram a atenção recentemente. Um foi o do vice-presidente do Flamengo, o vereador carioca Marcos Braz, que se envolveu em uma briga com um torcedor. A outra foi a declaração da cantora Luísa Sonza, ao vivo, em um programa de tevê, declarando que foi traída. O caso da Larissa Manoela e os pais também ganhou noticiário. Em todos eles, versões – exceto na situação da Luísa, pois o Chico Moedas não se pronunciou ainda a respeito do ocorrido.

É muito interessante ver as expressões durante as declarações. Quem estica a boca em mensagem de desprezo, quem comprime os lábios denotando que tem mais coisa a dizer, mas não diz. Os punhos cerrados, em sinal de combate. E quem faz expressões coerentes com o que está falando, não desvia o olhar, não olha para cima buscando respostas. O choro e a voz trêmula genuínos, bem como a tristeza no olhar.

Nem tudo é uma ciência exata. Há de se entender o contexto. A sequência dos fatos. Porque as incoerências surgem também nas declarações, o que ajuda a compor o todo. É possível ver, nesses casos públicos, frases exatamente contrárias – "a favor do relacionamento", "contra o relacionamento" aparecem em declarações da mesma pessoa em momentos diferentes.  No outro caso que sacudiu o noticiário esportivo,  um diz que uma pessoa está presente; a outra garante que nunca esteve – e, segundo o torcedor, testemunhas que corroboram. O tempo e as investigações dirão, mas há uma nitidez de um discurso mais emocional versus um discurso mais baseado em fatos reais. A mesma coisa ocorre no caso entre a mãe e a Larissa. Um lado puxa por adjetivos fortes – "ingrata" é um deles. O outro lado vai por comprovantes e com semblante de tristeza, em contraposição a um outro lado com raiva. Além disso, posturas diante de temas passados revelam que esse lado raivoso e dominador vem de longa data. 

Por fim, um choro ao vivo, da cantora Luísa, lendo um texto meio que exorcizando a traição do namorado. A coisa bombou de um jeito, que marcas fizeram promoções com o tema, gente começou a mostrar fotos e provas da traição, o local - um bar - do ato digno de novela mexicana, ganhou as redes sociais. 

Juntamente com os outros casos, um tribunal do júri da Internet comenta. "Foi marketing"; "Essa filha quer aparecer"; "Esse dirigente não devia ter saído de casa".

A questão, aqui, não é julgar – isso a gente deixa para os sites de fofoca, a Polícia, os advogados, enfim. O ponto é observarmos as expressões faciais, os gestos juntamente com o que as pessoas dizem. Claro que isso vem com prática e não vá, você, ficar olhando fixamente para o outro – vão ter certeza de que está fora do juízo.  Mas tão importante quanto se preocupar com o que vai ser dito é como vai ser dito.

Parece sem importância, mas observar o outro e analisar são fundamentais em épocas de notícias falsas, em relacionamentos superficiais, em leituras somente de títulos do noticiário. 

Em um momento de polarizações,  na vida diária,  mais discernimento, mais bom senso e menos dedos em riste são necessários.

Já há juízes superficiais demais, que deixam as paixões e as crenças pessoais atrapalharem a avaliação que está na cara de todo mundo.

 


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