O que fomos um dia
Eu amo fazer
ikebanas, porque amo as flores e a capacidade democrática que elas têm de
agradar gregos e troianos. É muito difícil você encontrar uma pessoa que não
goste de flores. A ikebana é uma palavra japonesa e, no Japão, as palavras
significam muitas coisas. No caso, “ike” vem de “ikeru” (arrumar flores), ou
“ikiru” (chegar à verdadeira essência de algo) ou ainda “ikassu” (iluminar da
melhor forma possível). Já “bana” ou “hana” significa flor. Ou seja, ikebana é
um arranjo floral.
Existem vários
estilos de ikebana. Eu pratico o tipo Sanguetsu. O Ikebana Sanguetsu significa
vivificar as flores tal qual elas se apresentam na Natureza. Esse estilo se
utiliza de poucas amarras. Ou seja, é o não forçar a Natureza. É dispor flores
e galhos respeitando o lado, a frente, ou seja, o jeito de cada um.
A primeira vez que eu
fiz uma ikebana, o galho era de uma pereira. Para quem conhece, é um galho
sólido e muito firme. Para eu firmá-lo no vaso, foi uma trabalheira. A
professora olhava incrédula para mim, talvez pensando “meu Deus, essa menina
vai dar trabalho”. E realmente dei. Nunca fui boa com artesanato, pintura, um
talento zerado em habilidades manuais. Mas, a ikebana me ensinou formas e me ensinou
a colocar os sentimentos nessa forma. Existe a técnica, mas o arranjo fala
muito de você e vice-versa. É impressionante como um mesmo material pode ser
vivificado de diferentes formas.
Não tem preço
ver o semblante de alguém mudar ao receber flores. É universal. É como se
nós voltássemos ao que éramos, ao que fomos e ao que esquecemos.
Comentários
Postar um comentário