Partidas

Hoje foi um dia de saudades e partidas. Pela primeira vez, a Páscoa foi sem ele. Todos os anos, ou estávamos no Rio, ou em São Paulo, ou nos falávamos por telefone. Juntos. Esse ano, não pude ouvir a voz do meu pai. E sequer vê-lo à mesa. 

Meu irmão me disse que tudo agora vai ser “pela primeira vez”. Ele tem razão. Só não sei se vou me acostumar. Acho que nunca. Tenho amigas, irmãs de alma mesmo, que passam pela mesma experiência. Idem com pessoas próximas.  E sei que muita gente, que nem conheço, hoje está sentindo a falta de alguém.  Especialmente hoje, quando se fala em renovação, ressurreição, gratidão.  Impossível não desejar quem se quer bem por perto.

Havia mais um desafio. Uma despedida. Levar minha mãe, após 15 dias comigo, ao aeroporto.  E mais. Fazer com que o nosso pequeno, que adora a minha mãe, entender, com seus 7 anos e o seu autismo, que é um até logo. É um até breve.

Primeiro, explicamos que estávamos no aeroporto. Depois, que ele não ia junto com a avó. E, depois, que agora esperaríamos o aniversário da avó para nos reencontrarmos. Fases longas, cheias de repetições, choros, colos e segundos de distrações.

Olho para a minha mãe, e quero que ela não vá. Quero protegê-la. Olho pro meu filho. Quero protegê-lo. Mas, a vida quer crescimento. Ela não chega para passar a mão sobre a cabeça. Temos que crescer. Mamãe tem que voltar pra casa. Eu tenho que segurar a falta do meu pai. E o meu filho precisa entender determinadas ausências.

Assim, minha mãe, disfarçadamente, levanta-se da mesa e vai em direção ao embarque, enquanto o Giovani brinca com seus carrinhos. Eu fico na mesa, sabendo que é o melhor lugar onde posso estar. Mas sem saber se estávamos fazendo a coisa certa.

O nosso garotinho surpreende. Inicialmente, como previsto, ao perceber que a avó não está mais com a gente, chora. Repete a frase do aniversário. E, nós, repetimos as explicações. Depois, ele se refugia em um diálogo do colégio e a gente embarca com ele. Em minutos, dividimos um Ovo de Páscoa. Meia hora depois, estava brincando.


Minha mãe embarca. Eu enxugo as lágrimas. Giovani segue brincando. E todos cresceram. Acho que é a Páscoa que Deus quer que a gente tanto compreenda. Independentemente da crença ou não crença de cada um. É o sentido da renovação. 

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