Julgando os rótulos. Só que não.



Quando a gente resolve ser feliz, optamos por não julgar. Primeiro, porque é cansativo. Segundo, porque o ditado já avisa: você aponta um dedo contra o outro e os demais ficam contra você. Terceiro, porque você vai ter que partir da premissa de que não erra. Pelo simples fato de estar por aqui, neste louco planeta, fácil perceber que você  não é a última bolacha do pacote. Aliás, ninguém.

Mas é difícil pacas. Motivos pra voltar a colocar o dedo em riste não faltam. O mundo sempre foi dos espertos. Os bons vão pro céu, os canalhas vão pra qualquer lugar. É o que dizem. E é o que vemos por aí. Há atitudes pra todos os gostos: os que empurram o trabalho pro outro; os que se escondem atrás de alguém; os que não querem saber de ninguém e se abraçam à ambição desmedidamente. Podemos ficar por linhas citando exemplos, desde passar na frente de todo mundo no elevador até coisa pior. Quem nunca?

E há, ainda, os que acham que descobriram algo na sua frente, só que você está há algum tempo esperando os iluminados chegarem à valorosa descoberta da pólvora. 

Todo mundo que me conhece sabe que tenho um rapazinho autista em casa. Recentemente, tive que praticar o doce e duro "ceder para conquistar". Ouvi de uma educadora o quão ela estava feliz porque meu filho conseguiu fazer uma operação matemática. Só que eu já estava pacientemente, junto com outros profissionais, esperando por essa conclusão. Sim, meu filho reconhece letras e números. E cores e formas também. Mas, se eu optasse pelo simples "apontar o dedo e quebrar o pau" - não há melhor expressão para o momento - , quem ia perder era o meu filho. Porque não ia puxar ninguém pro meu time. Só ia afastar e criar o outro lado. Ninguém ganharia.

Há muitos rótulos por aí. Não é só para autistas. "Coitado, é pobre". "Coitado, é deficiente mental, só vai ao passeio da escola se a mãe puder acompanhá-lo" (não, esse caso não foi o meu, felizmente; mas é real); "coitada, é mulher"; "coitado, sofre preconceito pela opção sexual". Poderia escrever mais e mais linhas. 

Coitados somos todos nós, que diariamente buscamos ser um pouco melhores. Cheios de deficiências, visíveis ou não, achando que somos mais ricos, mais bonitos, mais azarados, menos favorecidos.  A conclusão é só uma: estamos todos no mesmo barco. Mas a gente perde tempo apontando a vida pros outros. E julgando os fatos e as pessoas, surpreendendo-nos com o que analisamos que é improvável. Coitados que somos.

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