O que você faria?

 Paulinho Moska, em O último dia, pergunta ao amor dele, o que faria, se somente lhe restasse um dia.

E se, nesse dia, não houvesse como se comunicar, nem para avisar sobre o fim do mundo?

Sem falar, sem computador, sem Internet, sem telefone, tampouco rádio, televisão. Vá pensando em todas as formas existentes e, simplesmente, risque do caderno.

O que sobraria?

O olhar. Pense em como você poderia transmitir algo por meio dos olhos. Fixar nos olhos das outras pessoas. Arquear as sobrancelhas. Virar os olhos em sinal de impaciência ou de euforia. Produzir lágrimas...

A respiração. Respirar fundo. Lenta, suave e profundamente - a calma. Soltando todo ar de uma vez, com força - o desabafo ou o alívio.

A boca. Comprimindo os lábios, como se censurasse algo, até um choro. Um canto da boca, com nojo, descaso. Sorrisos autoexplicativos. Os dois cantos da boca pra baixo, sem graça.

As mãos. Gestuais frenéticos... palmas unidas, em sinal de oração ou paz. Dedos em riste, apontando culpados.

Os pés. O pé, batendo, em birra. Os pés na direção dos pés do outro - reciprocidade. Os pés, juntos, para pular de alegria.

E, quando combinados, um balé de opções. Mãos na boca, na testa, na cabeça, mexendo nos cabelos, coçando nervosamente o couro cabeludo. Na cintura, como poder de super-herói.  Puxando a orelha de alguém, em significado literal.

Utilizaríamos gestos. que geralmente não notamos. De tão ocupados que estamos diante de telas de computador, de aparelhos celulares, tablets. De tanto que nossos ouvidos perdem o que se passa no mundo além dos fones. 

Ou que nossos olhos, por estarmos sempre de cabeça baixa digitando, não conseguem alcançar. A propósito, qual foi a última vez que você olhou para cima? Ao céu, ao topo dos edifícios, aos telhados, às copas das árvores? Quantas cenas deixamos de presenciar - a mãe que carrega um filho sonolento no colo e com a outra mão puxa o filho mais velho - aquele pequeno, mas gigante milagre diário.

Será que voltaríamos a desenhar em paredes com pedras? Notaríamos as flores, a terra, sentiríamos o cheiro de chuva de forma mais intensa? Abraçaríamos mais, faríamos mais cafunés. Aplaudiríamos os amigos. Nos comunicaríamos apenas por gestos, mas de forma mais intensa e verdadeira?

O silêncio seria a
língua universal.

Abria a porta do hospício. Trancava a da delegacia. Dinamitava o meu carro. Parava o tráfego e ria.


Fonte: Google Imagens




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