Uma carta para 2019
Que ano,
hein? 2019, você caprichou tanto, que há quem duvide que você vai embora.
As pessoas
brigaram durante as eleições de 2018 e você fez com que elas ficassem cada vez
mais distantes. Com sorte, elas vão se suportar durante as festas de fim de
ano.
E como
discutimos política em 2019... descobrimos os extremos, da extrema-direita, do
neonazismo, à indiferença total. Ficamos chocados vendo o caos venezuelano,
argentino, boliviano, chileno. E percebemos que estávamos dentro dele, juntos e
misturados.
Só não é
possível dizer que as fake news chegaram ao ápice, porque talvez o fundo do
poço tenha subsolo. Nem as tragédias escaparam de vídeos e imagens falsas.
Mas, mesmo
vítimas também de memes e fake news, a realidade mandou recados. O massacre de
Suzano chamou a nossa atenção de como andamos doentes – mentalmente falando.
Como estamos gritando por socorro em bolhas, independentemente da crença, da
questão social ou classe econômica. O estresse, a ansiedade, a bipolaridade, o
Burnoutt... tudo isso fez os consultórios ficarem mais lotados e a profissão de
psicólogo virou tendência.
As
universidades públicas sofreram cortes e, em meio a protestos, constatamos que
custa caro deixar a Educação de lado, por décadas. A ignorância reina absoluta
nas redes sociais por puro desconhecimento sobre História. Infelizmente,
enquanto você lê esse texto, centenas de milhares de alunos deixam de ir à
escola, enquanto dezenas e dezenas andam quilômetros para ter acesso a um
professor em busca de dados novos para simplesmente evoluir.
E, por
falar em informação, recebemos toneladas delas por segundo. Verdadeiras, falsas
e principalmente vazadas. Áudios ganharam protagonismo, afetaram Brasília e nos
deixaram sem privacidade. Tudo vindo às claras. O que é bom, porque nada se
esconde, o que é ruim, porque a ética fica discutível, o que é preocupante,
porque não se separa o joio do trigo.
Tanta
informação nos fez ficar perdidos. Sabemos que precisamos fazer algo a
respeito, mas não sabemos como. O desenho dos Jatsons não se concretizou. Não
estamos em carros voadores. No momento, de verdade, está em nossas mãos a
sobrevivência do planeta. Simples assim. É. Chegamos a esse ponto, de queimar
florestas e manchar oceanos com óleo. Num raio de esperança, uma pirralha (sim,
é ironia) é capa da Time e causa insônia em muitos líderes, por gritar verdades
incômodas. 2019 veio para ensinar que tudo é possível e que todos –
independentemente de cor, idade, raça, credo ou condição física – podem ter
voz.
Enquanto as
vozes tentam se entender, a vida pede passagem. Nunca foi tão banalizada. Nunca
se matou tanto. Estamos em 2019 discutindo termos armas. Contra quem? Nós
mesmos. Baile funk no quintal dos ricos passou a incomodar e a matar gente
jovem.
2019 em uma
palavra: destruição.
Mas, é
destruindo que se constrói. Acho que todos nós devíamos nos destruir. É o jeito
de arrumar a bagunça que fizemos como espécie. Mas, calma, não sou uma
terrorista. É destruir velhas crenças, velhos hábitos, o desânimo, a doença, a
pobreza de espírito, o egoísmo, a mente limitada, o preconceito. Eles não cabem
mais. É só olhar em volta e ver o desastre que fizeram com você e com a
humanidade.
Que 2020
traga, enfim, uma renovação. Honestamente, ainda vamos assistir, estupefatos,
algum caos. Não há transformação sem ele. Por isso, é preciso coragem e a
convicção de que tudo isso que está aí é, sim, para um mundo melhor. Está em nossas mãos.
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