Achei um piquenique para matar saudades suas, pai


Era o aniversário de  nove ou dez anos de idade, não vou lembrar com exatidão. Decidiu-se comemorar em Paquetá, furando a tradição. Explico: faço aniversário em junho; meu irmão, em julho. Por ser julho o mês de férias, no aniversário do meu irmão, minha mãe juntava nós dois e fazia algum passeio. Por ser junho ainda mês de escola, o aniversário era com bolo, amigos e parentes. No fundo, pra mim, não funcionava muito. Eu ficava com o gosto de aniversário do bolo com refrigerante. Acho que por isso não gosto dessa tradição até hoje.

Mas, enfim, ganhei uma vantagem. Iríamos a Paquetá. Levaria a Flavinha, minha amiga de infância. Paquetá, da novela “A Moreninha”. Paquetá, ilha com pedalinhos e bicicletas. Paquetá, ainda, naquela época, com águas limpas da Baía de Guanabara.

Para se chegar até lá e aproveitar melhor o dia, era preciso chegar cedo para pegar a barca. Fomos de carro com o papai até a Praça XV. E, de lá, partimos. Para uma criança, a viagem era demorada: uma hora e dez minutos. Mas, por alguns instantes, conseguíamos apreciar o mar, ter respeito pelo tamanho da barca. Para mim, com aquela idade, era como entrar em um navio.

Chegando lá, era preciso guardar as coisas em uma espécie de guarda-volumes com direito a chuveiro. Mas o nosso negócio era ir logo disputar corrida de pedalinhos. E qual criança iria com qual adulto. E como nos empenhávamos para pedalar o mais rapidamente possível, para desespero dos adultos.

E foi então que fomos para uma árvore histórica, cheia de galhos, emaranhados, gigante – para mim, ao menos, era. E para unir dois galhos grossos, construíram uma passarela. Feliz pelo sol, o mar e o aniversário, rapidamente subi com a minha amiga. Contemplamos a copa, as folhas, os inúmeros galhos, o sol chegando até nós. Mas, aí, dei-me conta de que tenho medo de altura. Já havia sofrido pânico semelhante ao ir no bondinho do Pão de Açúcar. Minha mãe me lembrara que havia dado a mão para a primeira pessoa que vi, de tanto medo de sair sozinha do bondinho. Aquele vão entre o bonde e o morro da Urca me apavoraram.

E, agora, o que me apavorava era a estreita ponte de cimento. Fiquei um pouco tonta e simplesmente não conseguia andar para frente; o que dirá para trás. Vendo o meu pavor, meu pai, meu herói, subiu e me resgatou.

Depois disso, fomos comer. E, depois veio o banho e já era hora de pegar a barca e voltar pro centro do Rio.

Nunca mais esqueci desse dia. O pedalinho mágico, a árvore assustadora e o meu pai herói.


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