A vida te leva

A vida te leva pra longe. E às vezes te traz de volta. Esse papo de maluco é mais simples e óbvio do que se imagina.

É uma irritação quando o elevador vai parando em vários andares e ninguém abre a porta. Você chega a desejar conhecer as pessoas que fazem isso, só para esganar, xingar, ou fazer algo do gênero. Mas, aí, você franze a testa e desiste.

Afinal, são 8h da manhã e você já está desse jeito?!

Sem falar que o que leva essas pessoas a fazerem isso - assim como outras que sobem escadas rolantes como se não estivessem nelas - é a mesma irritação que te faz pensar em momentaneamente se vingar delas.

Aliás, é uma cena no mínimo intrigante. Pelo menos nos metrôs e trens de São Paulo. Chega a ser organizado. As pessoas que optam usar as escadas rolantes do modo tradicional - ou seja, ficam imóveis até o destino - ficam do lado direito. As que estão com pressa e querem desafiar a velocidade das escadas em movimento seguem pelo lado esquerdo.

São exemplos mínimos. É possível ir do ceú ao inferno várias vezes ao dia.

Há os exemplos mais complexos. O noticiário está aí para isso. Ficamos embasbacados com a capacidade do ser humano. Comentamos sozinhos, acompanhados, em voz alta, não importa.

"Como foram capazes de uma ação dessas?".

Aí, geralmente a gente se levanta e vai buscar um copo de água. Enquanto os comerciais passam, vem aquele pensamento alheio, descompromissado. "Quantas vezes fui ao inferno? Quantas vezes mandei gente pro inferno? Quantas vezes eu me comportei como quem manda no inferno?".

Ah, mas o inferno são os outros. Ah, mas é um inferno ser eu.

A vida vai te levar de qualquer jeito. E vai te entregar à morte. Eu acredito que há vida após isso. Há quem não acredite. E não respeito menos quem não tem esse tipo de crença. Porque, no fundo, não é isso que te faz ir pro céu. O céu é aqui mesmo. É aqui dentro. E é uma escolha. Que começa no elevador. Ou na escada rolante. O lugar não é o mais importante. Acho que já deu para perceber, né...