Vida normal - só se for pra você

Ter uma rotina normal não é nada fácil pra mim. Aliás, normal é uma palavra muito discutível. Eu não sou uma blogueira profissional - sou uma negação em estratégia de postagem. Mas, entendo de ser mãe, de ser profissional, de ser mulher. Um dia, quem sabe, eu adquira  essa competência de ter disciplina para escrever um post.

Mas, o que me puxou para cá foi o tema  "ser normal". Outro dia, a professora relata para um dos anjos que acompanham o meu filho que ele teria chutado uma colega. Esse anjo perguntou à professora se a reação veio do nada. E foi só aí que mais informações vieram à tona. A coleguinha tanto insistiu para fazer uma atividade, que ele deu um chega pra lá na menina. Mas, se não fosse questionada, a professora nem perceberia que a situação tem dois lados. Claro que chutar não é o caminho. Mas, não apurar a situação também não é.

Essa semana, meu filho, de 9 anos de idade, foi chamado por um menino da mesma idade de "menininha",  porque estava brincando com uma boneca. Ele então bateu nas costas do colega e retrucou: "você não pode fazer isso".  Uma criança autista deu uma lição em uma não autista sobre gênero. Crianças se provocam. Já não posso dizer que naturalmente discriminam. Aí, infelizmente, tem dedo de adulto. 

Houve ainda uma ocasião em que disseram pro meu filho: "ei, você não pode brincar!". Ele ficou sentido por um bom tempo. Do jeito dele, reagiu, entrou numa crise que felizmente durou apenas uma hora. Crianças dizem umas pras outras coisas assim. Se foi por ele ser autista, nunca saberei.

Eu posso achar normal um monte de coisas que você não acha. E você pode achar o cúmulo o que eu considero ser normal. 

Isso, aliás, faz a memória me indicar outro episódio. Na minha lua de mel, eu e meu marido fizemos amizade com um moço que trabalhava em um bar  em uma praia de Itacaré, na Bahia. Naturalmente, ele nos contou sua rotina: "tenho três bermudas, duas camisetas e um par de chinelos; moro e como nesse bar; quando quero mais dinheiro, faço trilhas com turistas". E eu, enquanto ouvia o relato despretensioso do mais recente amigo, ficava pensando: "ralei o ano inteiro para ter uma semana nesse paraíso, ter uns dias mais normais, e o cara aí tá mais do que feliz com a vida dele".  

Quem é o normal da história?

Não tenho uma receita pra concluir esse texto. Mas, posso dizer que uma coisa que a gente precisa buscar mais e mais é respeitar o outro. De perto, ninguém é normal. E, se ninguém é normal, é no mínimo bem insano rotular tudo e todos.

Ainda virão muitas frustrações. Ainda vou presenciar muitas cenas de preconceito - diga-se de passagem, só perdi a calma em raras ocasiões, ou seja, estou de parabéns. Mas, sigo acreditando em um mundo mais possível, onde todo mundo será tratado dentro da normalidade. 

Quero muito ser esse tipo de pessoa.




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