Ser mãe é bom


Semana passada, terminava uma atividade voluntária e meu filho me pede pra brincar no parquinho. Eu me distraio e, segundos depois, ele volta chorando. Pelas dificuldades de comunicação, eu demoro a compreender. Ele só quer se esconder nos meus braços. Depois que chegamos em casa, é que ele consegue me dizer, do jeito dele: “as crianças não deixam brincar; tô triste”.

Reajo rapidamente e digo que sim, ele pode brincar. E que ele pode me chamar. Pode chamar o pai dele. Sempre que for preciso.  Fico aliviada, porque, nos minutos seguintes, ele já está curtindo seu jogo eletrônico preferido.

Mas, algo me incomoda e é dolorido. Procuro entender o motivo. Busco tratar o meu filho da forma mais tranquila possível e criá-lo para  a vida. O que toda mãe em qualquer lugar do mundo supostamente faz. Independentemente de o filho ter deficiência ou não. Finjo não ver – solenemente – caras feias de julgamento. Sei que certamente muitos que já viram meu filho correndo ou, quando mais novo, batendo com a cabeça no chão, pensaram : “quem são os pais dessa criança?”.

A melhor forma de transcender uma dor é encará-la. Chego ao ponto nevrálgico. Crianças são assim. Há uma livre democracia entre elas. Elas se entendem. De uma forma simples que jamais entendemos, como adultos. E, ironicamente, fomos crianças. Elas ignoram diferenças que nós não ignoramos.  O que será que aconteceu? Por que não fiquei tão atenta? Não dá para concluir sem todos os elementos. Mas, uma coisa é certa. Nenhuma mãe quer ver seu filho rejeitado sob qualquer circunstância. Mas, entende, no final. É parte do crescimento.

A dor continua e eu percebo que a conclusão não resolve o problema.  Lágrimas vieram. É, vieram. Na verdade, a minha dor é que sou impotente. Não tenho como protegê-lo. E ele não sabe se defender. E virá a adolescência. Pode piorar.

Mães do mesmo barco dizem que a primeira vez é assim mesmo; que a gente precisa driblar o preconceito. Concordo muito com elas. Se a gente não segura a onda, quem mais faria isso?

Penso também em mães de outros barcos. Todas são mães. Filhos sem deficiência também são rejeitados. E também às vezes não se defendem.

Eu me dou conta de que ele chorou. Ele reclamou. Ele reconheceu. Isso é uma vitória. Ele está percebendo o mundo. Concluo que não estou só. Muitas mães passaram ou passam por isso. Também vejo o quanto sou abençoada. Meu filho é super amado na escola. Tenho amigos incríveis, que sempre procuram deixá-lo confortável e ainda orientam os filhos a fazerem o mesmo. Enfim, o copo cheio voltou. Vejo mais prós do que contras.

É um dia a dia muito complexo. Uma montanha-russa inevitável. Um riso, um choro, um desespero. Por vezes, ao mesmo tempo. Milhares de mães por aí passam, passaram ou passarão por isso.

Puxa vida. Que presente do Dia das Mães. Ficar ainda mais apaixonada pelo filho. E ,mais ainda, por ser mãe.  

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