Crise da reclamação

Eis a situação. Semana de poucas horas de sono, uma lista daquelas de pendências. Já me dou conta de que alguns pratos vão cair. Mas, a cabeça pede pausa e a melhor fuga que conheço é colocar as ideias em ordem por meio da escrita. Cada um com a sua maluquice.

Andamos cheios  de compromissos. Ficamos impacientes. Não temos tempo para ficar em uma fila, não queremos esperar mais por nada. A era do clique. A época da notícia pela polêmica porque alguém não conseguiu amamentar o próprio filho ou porque um ator desejou melhoras a uma colega que está no hospital. De cortar os pulsos.

Mas, sabe o que tem mais me incomodado? A falta de paciência para aprender. As pessoas só reclamam. Do tempo, do trabalho, do chefe, do colega, de tudo e de todos. A culpa é sempre do outro.  Não há mais reflexão.

Será mesmo que é tudo tão ruim? Que todo mundo está errado?  É mais fácil reclamar do que resolver?
Tem uma frase, que é ótima e vem de um japonês, chamado Mokiti Okada. Ele diz que “se é a crise que abre o caminho para o progresso, ela deixa de ser crise”. Então, por que andamos tão superficiais, tão críticos e enxergando muito pouco ou quase nada sobre soluções?

O que me vem à cabeça pode não ser genial. Mas, arrisco, assim mesmo.

A gente não se aprofunda mais sobre qualquer coisa. Ficamos contentes em compartilhar assuntos sem observá-los com mais atenção. E achamos isso tudo muito elegante e intelectual.

Também  não somos bons para aceitar que precisamos mudar. Dá trabalho. É preciso aprender para alcançar uma modificação. Se não temos o espírito de busca, fazer o quê? Já sei. Vamos apontar o dedo para o outro.

Não ouvimos mais. E não reconhecemos o que de bom o outro pode ter. Já aprendi tanto na vida com as pessoas mais simples e humildes, que já perdi a conta.  E simplicidade e humildade não são consequências do que muitos pensam por aí. Há coisas que você pode ganhar ou não. E há certas coisas que você tem ou não.  Não tem nada a ver com dinheiro, títulos de MBA e cursos no exterior. Ou com pobreza material extrema. Sutil diferença. 

Gostamos de nos proteger. Em grupos, de preferência, formados por pessoas iguais a nós. Conviver com as diferenças, nem pensar.  

E tem ainda a questão do poder. Não sabemos mais o que fazer com ele. O poder da mudança, o poder da conversa, o poder do aprendizado.  O poder de transformar. Falta inteligência emocional. E o poder pelo poder, sem inteligência, é algo desastroso. Feio de se ver.

Nesse ponto, eu agradeço muito por ter o Giovani. Com seus 7 anos, convivendo com o autismo e nos ensinando que alfabetização pode vir de um jeito diferente, que a fala vem do método incomum, que amor e carinho são linguagens milagrosas. De transbordar de tanto aprendizado. Que diferenças ensinam, tiram a gente da zona de conforto, fazem a gente sair do casulo e nos dão uma causa legítima, consistente e profunda para viver.

Ah, andamos tão errados. Não debatemos, não discutimos. Não nos completamos.  Fica tudo vazio. Onde tem espaço, sobra insegurança. Sobra infelicidade. Bingo: vamos, então, reclamar? Assim nos sentimos mais aliviados, achamos que estamos fazendo alguma coisa.  E nos esquecemos de quem começou com tudo isso -  nós mesmos. Que a resposta sempre esteve bem pertinho, dentro de cada um.  E que a vida que a gente leva é escolha nossa. De mais ninguém.

Copo meio cheio ou meio vazio? Agradecer ou reclamar? Colaborar ou criticar? A escolha é sua.


Agora, deixe-me voltar à minha lista e à minha semana "Walking Dead". Sem culpar ninguém. Obrigada, Giovani. 

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