Dez dicas para lidar com muitas coisas por aí

Há um paradoxo nesse mundo politicamente correto. Tudo ficou extremamente chato. Mas, ao mesmo tempo, ficou mais democrático. Disso tudo, tem um ponto importante: se você acha que engana alguém, está enganado.

Falo pelo universo que conheço. E, por meio dele, falo por muitos universos. Mas, como eu só escrevo movida pelo que realmente vivencio, então, vamos ao fato de ser mãe de uma criança com necessidades especiais.

Eu poderia descrever a situação que originou esse texto. Mas, ela ainda me incomoda de uma forma, que nem pelo simples  desabafo eu consigo escrever a respeito. Então, opto por dicas, que se traduzem não só pelo fato recente, mas por algumas outras pelas quais passei.

Como eu não gosto de uma bandeira única, essas dicas servem para muitas coisas e não somente para famílias de crianças autistas ou com qualquer síndrome ou transtorno ou qualquer nome que se traduza em "desafio diário de superação".

1) Não se incomode em perguntar. Sabemos quando a dúvida é legítima e há um interesse genuíno em conhecer mais sobre o que estamos passando. Agora, se a sua intenção é especular para ter assunto por aí, você não nos engana.

2) Se você não sabe lidar com isso, seja sincero. A honestidade é suprema, respeitosa, sublime. Você não sabe como a gente sabe acolher alguém que diz "é difícil para mim, mas quero aprender". Agora, se você  não quer, esteja certo: a gente sabe. Só pelo olhar.  

3) Quando você se deparar com uma criança ou adolescente ou adulto fora de controle, rodando em círculos, correndo por aí, ou batendo com a cabeça no chão, sabemos que a primeira frase que vai gritar dentro da sua cabeça é: "que pais incompetentes". Sugiro que você respire, pense e repense antes de continuar. Pode não ser nada disso. Mesmo.

4) Se você vai dar um diagnóstico a uma família sobre um transtorno até agora incurável, pense. Pense de novo. Por garantia, pense mais uma vez. São seres humanos. 

5) Se você acha que é são e não tem qualquer problema, é bom estar mais atento ao noticiário. Novos vírus e bactérias surgem diariamente. Nunca fizemos tanta coisa errada ao mesmo tempo. O DNA não perdoa. Doenças neurológicas, doenças de todo o tipo, não faltam por aí. Antes de atirar a primeira pedra, pergunte-se, com sinceridade, se você não tem nada considerado pela sociedade como 'esquisito' e que você guarda a sete chaves. Nem precisa me contar. Só guarde a informação e perceba que está cada vez mais difícil saber quem é são por aqui.

6) Se você quer vibrar com a gente pelo que se consegue e não pelo que seria o ideal, nossa sintonia é imediata. Agora, se você fica perplexo porque vê alguém que você julga incapaz conseguir algo, contrariando seu raciocínio cartesiano, isso nos deixa minimamente chateados. As pessoas que amamos não são chimpanzés (com todo o respeito aos primatas) com aptidões circenses. Eles são guerreiros que ultrapassam obstáculos.

7) A gente gosta de ser tratado o mais normal possível. Aliás, é o que mais ajuda nessas horas. Sem essa de "especial", "inclusivo", "deficiente". Somos quem somos. Nem todo mundo concorda, mas realmente acho cada vez mais difícil qualquer tipo de rotulagem. 

8) Ninguém está aqui para gostar das mesmas coisas que o outro. Nem de acreditar, nem de aceitar. É livre a escolha.  Só esteja pronto para as consequências das suas atitudes. Estando bem com tudo isso, vá em frente. 

9) Ah, muito importante. Nem tudo é para você meter o nariz. Sério. Marido e mulher, mãe e filho, irmãos, amigos. Principalmente eles.

10) Não insista em querer ficar se você não segura a onda. A gente entende. Sem ressentimentos. O que ressente é ficar, fingir que quer, mas, no fundo, não quer. Não tem coisa pior do que preconceito disfarçado de verdades absoultas.

A lista poderia aumentar, mas limito-me a dez itens. Por simbolismo, certamente.

E vamos em frente.



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