Eu acredito

Amo futebol. Não sou nenhuma enciclopédia, não sei de cor escalações inteiras e muito menos detalhes de jogos históricos.  Mas, posso dizer que lá em casa ninguém briga pelo controle remoto para definir novela ou partida de futebol. A segunda opção ganha sempre.

Meu time perdeu. Feio. Uma ‘sacolada’, muito provavelmente na melhor noite de futebol brasileiro de 2014. Jogaço. Vendo os rivais comemorarem, ensaiei um monte de explicações – bem plausíveis e emocionais – para retribuir a felicidade alheia: “ei, seu time está na série B, lembra?”; “ei, seu time já foi da série C, já perdeu até em amistoso contra o time do Corpo de Bombeiros!”. A engraçada provocação, não me perguntem por razões. É uma espécie de encantamento entre futebolistas.

Aí eu comecei a reparar nos vencedores. Eles entraram em campo em desvantagem – pois é, meu time conseguiu perder nesse cenário. Mas, sonharam. Acreditaram. Aliás, a torcida gritava “EU ACREDITO!”, até mesmo quando levaram um gol, o que só tornava distante a chance de virada. Mas, continuaram. Até o fim. Faltando 10 minutos pro jogo acabar, marcaram o gol que faltava. 

A decepção, a visão do inacreditável e simultaneamente uma admiração pela qualidade da partida - de novo, sem explicações. É assim que apaixonados por futebol se sentem. Percebi o quão sou resiliente. Não é falsa modéstia. É sobrevivência, necessidade. Lembrei-me de quando meu filho foi diagnosticado com autismo. O luto, a decepção, a tristeza. E o quanto eu e o meu marido tivemos que acreditar, quando os médicos davam poucas esperanças para a melhora do quadro.

Ontem mesmo eu lia um bilhete da escola, dizendo que ele havia chorado, por não conseguir fazer uma atividade. Dá uma dorzinha por dentro, de querer evitar que seu filho sofra. Uma vontade de conversar com Deus e pedir para dar um desconto. Ao mesmo tempo, esquizofrenicamente, é o sofrer, o lidar com a frustração, que dá caminho pro quadro autista evoluir. O mesmo raciocínio da satisfação por uma derrota com bom futebol. Volto a ficar forte e, da desistência da conversa com Deus, passo a agradecê-Lo por isso.

Enquanto leio as críticas sobre os jogos e os comentários dos rivais, vou pensando na melhor noite de futebol deste ano. E no melhor filho que Deus poderia me dar. Estaria tentando ser uma pessoa melhor, não fosse por ele? Deixaria-o abandonado por causa do diagnóstico? Deixaria de torcer por um time, só por não ter vencido?


Sou flamenguista. O exemplo da resiliência. Sou atleticana. O exemplo de quem acredita. Sou mãe, a que aguenta e segue em frente. É, eu acredito.


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